Qua, 10 de maio de 2023, 10:24

Discurso de Homenagem aos 45 anos do CECH
Professora Drª. Silvana Aparecida Bretas - Diretora do CECH

Então, o que quereis?

(Vladmir MaiaKovski)

Boa tarde a todas e todos!

Em nome do Magnífico Reitor da UFS, Prof. Dr Valter Joviniano Santana Filho (ou Prof. Dr. Rosalvo Ferreira), cumprimento toda a comunidade acadêmica

Cumprimento a equipe técnica deste auditório em nome, que nos permite estar junto para realizar este evento;

Cumprimento a equipe de intérpretes de Libras em nome, que tem papel fundamental de fazer nossas falas chegar aos olhos e mentes das pessoas surdas

Cumprimento os componentes da Jazz Band Pongatyba em nome da Profa. Aline Soares Araújo, que abrilhantaram a abertura deste evento;

E cumprimento as/os chefes de Departamentos/Núcleo do CECH e também a todas e todos docentes e discentes aqui presentes;

Do mesmo modo, cumprimento as ex diretoras e os ex diretores do CECH (suas famílias e amigos) que puderam estar aqui com conosco!

A minha fala não comporta nenhuma outra intenção a não ser a de agradecer ao momento histórico de estamos vivendo para reverenciar a memória dos 45 anos de implantação do Centro de Educação e Ciências Humanas – CECH/UFS. E que data mais feliz, pois também reverenciamos a memória de 55 anos da UFS! Como repetimos em nossos discursos é a única universidade pública do estado e eu acrescento: do único sistema público presente em todos os estados brasileiros! Acredito que tenho motivo para estar duplamente grata!

Eu aprendi nos meus mais de 30 anos de docência e de muita militância política, especialmente, no campo da educação, que a vida é a nossa maior fonte de alegria e contentamento! É ela que sempre nos presenteia com momentos como este! Mesmo sabendo que viver nos tempos atuais não está sendo nada fácil, sob nenhum ponto de vista, entendo que só o fato de estarmos aqui para comemorar já demonstra que não seremos tão facilmente vencidos.

Com a gratidão à vida é que peço licença às diretoras e aos diretores que, em outros momentos históricos ocuparam o lugar que ocupo hoje, para ser portadora de suas vozes, pois sabemos que para se construir 45 anos de um espaço institucional, dentro da UFS, foi e ainda é absolutamente necessário o trabalho coletivo de todos os segmentos: docentes, tae, trabalhadoras/res terceirizadas/os, discentes, que passam parte de suas vidas dentro deste circuito que chamamos de CECH. Não somos ingênuas/os em dizer que nossa convivência sempre foi livre de divergências, de dissensos, de contradições, de erros, equívocos e, até mesmo, desentendimentos. Isto seria romantizar o trabalhoso percurso de construção de um espaço de formação das pessoas que cursam licenciaturas e bacharelados. O que implica apoiar suas carreiras, seja na vida acadêmica ou no mercado de trabalho.

Os 45 anos institucionais, do ponto de vista histórico, é tempo presente e tem pouco acúmulo para tirar grandes lições do passado, mas já nos dá a pista de que precisamos ter mais humildade! Não digo a humildade da pequenez, esta forma nada mais é que a tentativa de desencorajar as iniciativas e o enfrentamento da realidade. Falo da humildade de reconhecer quão grandiosa e árdua é a tarefa de formar em nossos cursos de educação, ciências humanas, das artes e da cultura, no contexto de um país pobre, de capitalismo periférico e avassalado em sua soberania! Essa tarefa não se faz e não se realiza sem a vontade política de estabelecer um debate sobre quais posições assumimos, as abordagens que defendemos e os rumos que propomos. As divergências e os embates são muito presentes entre nós, mas isso não deve ser tomado como algo ruim em si mesmo, muito menos como inimizade entre os oponentes. Já me ensinava um velho professor de Ciência Política que devemos enfrentar a oposição sem, com isso, querer cancelar o oponente. Então, acredito que precisamos entender nossos embates como um fator importante da democracia universitária e, especialmente, na edificação do que entendemos por autonomia universitária, pois é neste clima que ensinamos aos nossos estudantes (e elas/es a nós) que na universidade se aprende e se forma pelo dissenso e que essa prática nos educa a construir os consensos.

Imagino os desafios que a Profa. Maria de Lourdes Maciel, junto com seu vice, o Prof. Fernando Lins(in memoriam), enfrentaram ao iniciar sua gestão em plena ditadura cívico militar! Certamente, o silenciamento, as restrições e a imposição de cursos como Estudos Sociais e disciplinas como Estudos dos Problemas Sociais Brasileiros constituíam barreiras concretas para defender a educação pública e a consolidação das Ciências Humanas como campo de saber autônomo.

Ainda que os ares político-brasileiros começassem a avançar para a superação desse período autoritário a partir dos anos de 1980, creio que os Professores José Alexandre Felizola, José Araújo e Profa. Lenalda Meneses tiveram muito que lutar internamente para falar em direito a eleições livres, direitos políticos e civis e denunciarem o projeto de elitização da educação em Sergipe e no Brasil!

Depois do grande movimento das Diretas Já (1984) até a proclamação da Constituição Cidadã (1988), quando a sociedade civil se mobilizou de forma tão inédita, imagino que as Profas. Joelina Menezes e Tereza Cruz, os Profs. Luís Alberto dos Santos, Antônio Ponciano e a profa. Ilka Bicchara também movimentaram a comunidade do CECH para que internalizasse os debates que fervilhavam na sociedade e construíssem posições claras deste Centro a fim de não passarem pela história sem o seu contributo.

O século XXI chegou e junto a ele a reviravolta para as forças populares se reverteu no avanço das políticas de cunho neoliberal, especialmente, para campo educacional. Ainda que tivéssemos sob a égide da recém Constituição Cidadã e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), acredito que as Profas. Tânia Magno, Vera Lúcia França, os Prof. Jonatas Menezes e José Eloísio, em seguida a Profa. Ana Leal, muito tiveram que se esforçar para absorver as oportunidades oferecidas pelo avanço da democracia e, consequentemente, com fortalecimento do serviço público especialmente para a universidade, mas que, nem por isto, puderam evitar a contradição das ideias forjadas de que a escola e a universidade públicas eram um fracasso e custavam muito caro aos cofres públicos!

Entre 2012 e 2021, tivemos nada mais nada menos do que três mulheres na direção do CECH: a profa. Iara Campelo, seguida de sua vice, a profa. Leônia Garcia, que assumiu a direção para que a Profa Iara assumisse a vice-reitoria. Depois foi eleita a profa. Ana Leal, com o Prof. Genésio. Essas gestões contribuíram significativamente para o estabelecimento dos Fóruns de Licenciatura e de Bacharelado como um espaço de construção coletiva dos Projetos Políticos Pedagógicos de nossos Departamentos/Núcleo, quando da vigência da Resolução 02/2015. Por outro lado, também tiveram que gerir o crescimento exponencial que vivia a universidade pública com o Projeto REUNE. Imagino, quantos processo de concursos, pareceres de conselheiros, demandas inéditas dos novos cursos e, apesar de ter sido uma fase vantajosa para a universidade pública, também não deixou de criar novos problemas como infraestrutura, equipamentos e necessidade de novos arranjos institucionais.

Ainda em 2021, outra eleição para o Centro, na qual eu, profa. Silvana Bretas, e o prof. Marcos Balieiro colocamos os nossos nomes para assumir esta tão grande responsabilidade. Posso dizer que herdamos ainda todos os desafios históricos que constituem a vida institucional do CECH, mas até para honrar aquelas e aqueles que nos antecederam, quero dizer que continuamos firmes na tarefa de dizer que educação não é mercadoria. Todos os dias que adentramos no Centro, nossa luta é para trazer para o debate o escandaloso projeto de instrumentalização da formação de licenciados e bacharelados da área de educação, ciências humanas, das artes e da cultura. Uma política de formação para os cursos superiores que aposta no rebaixamento cognitivo dos docentes formadores e de seus estudantes. Diante de tal cenário, só podemos garantir que continuaremos esta história sempre ao lado da classe trabalhadora, das mulheres, da comunidade LGBTQIA+, das negras e negros, das pessoas com deficiência, das comunidades indígenas, campesinas, tradicionais enfim e em poucas palavras, sabemos qual é o nosso lugar e o nosso lado na história!

Para não me alongar mais e sem nenhuma intenção de romantizar a realidade, pois o espírito dos tempos não está para isto! Neste momento em que estamos juntos é necessário registrar com um sonoro agradecimento aquelas e aqueles que tiveram e têm a coragem de fazer essa história, oferecendo o que há de melhor em si para trazer o CECH aos seus 45 anos!

Então reitero nossos agradecimentos à Reitoria, na pessoa do Prof. Valter Joviniano, Reitor da UFS, por nos apoiar em diferentes ações do Centro;

Às Pro-Reitorias nas pessoas das Profas. Sueli Silva e Thais Ettinger, dos Profs. Dilton Maynard, Marcelo Mendes e Lucindo Quintans, também a de Sérgio Sávio e Abel Smith. Do mesmo modo, agradeço aos Superintendentes Prof. Kleber Oliveira, Prof. Jordines Vieira e Andrés Menéndez

Agradecer aos TAE e trabalhadoras/es tercerizados da reitoria sempre prontos a nos atender, nas pessoas de Dênia e Rose!

Agradecer à presença das/os colegas diretoras e diretores presentes! Carolina, Christiane, Anne Kely, Roberto, Adriano, Ricardo, Péricles, Markson e César!

Com o coração mais ofegante agradeço às/aos docentes do CECH por se dedicarem ao ensino, à pesquisa, à extensão e, especialmente, às/aos chefes de que se dedicam à gestão de seus departamentos e núcleo;

Com mais carinho ainda, agradeço às/aos discentes de todos os cursos do CECH e digo, simplesmente, que sem vocês nada disso aqui teria razão de ser!

Agradeço com muito reconhecimento aos TAE de todos os departamentos e núcleo do CECH, como também as/aos trabalhadores terceirizados;

E agora eu preciso citar nomes: Agradeço:

Ao Prof. Marcos Balieiro, DFL, muito obrigada por aceitar enfrentar o desafio de conduzir o CECH e por estar sempre ao meu lado!

À minha equipe da secretaria do CECH, sem a qual nada deste evento seria possível:

Fábio da Rocha, Fabio Maciel, Bruno, Neila, Roseneide, Rogério e Aline

Estagiários: Karine, Thereza Christina, Luandrey e Marvi

Em nome de Yaron, agradeço aos estudantes que nos apoiaram na organização.

E por fim, reconhecer a importância, a valentia e a coragem daquelas e daqueles que me antecederam!

Com uma admiração especial as/os colegas aposentadas e aposentados, que não se reconhecem na denominação administrativa de “inativos”, muito menos fizeram uso do significado da sua nova condição: voltar para os aposentos. Grande parte retornou à UFS na condição de voluntária/o e permanecem, generosamente, contribuindo com a vida acadêmica.

Maria de Lourdes, Fernando Lins (in memoriam), José Alexandre, José Araújo, Lenalda Santos, Ponciano Bezerra, Ilka Bichara, Joelina, Maria Tereza, Luís Alberto (in memorian), Tânia Magno, Vera Lúcia, Jonatas Meneses, José Eloísio, Iara Campelo, Leônia, Ana Leal, Genésio

Em nome da gratidão, não há mais nada a oferecer senão a poesia:

Então, o que quereis?

Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.

Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?

O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.

Vladmir Maiacovsky, o poeta da revolução!

Muito obrigada!


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