MAIS UMA TRAGÉDIA NA ESCOLA PÚBLICA: ATÉ QUANDO?
27 de março de 2023, mais um caso trágico na escola pública com vítima fatal envolvendo os próprios sujeitos da comunidade escolar! Diante do fato, estremecemos horrorizadas/os na medida em que as notícias vão desvelando as causas, os sujeitos envolvidos e, especialmente, as cenas que viralizaram nas redes sociais! Segundo notícia da CNNBrasil (https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/brasil, 27/03/2023) somam-se 16 ataques à escolas públicas nos últimos 20 anos, os quais serão relacionados aqui pela absoluta necessidade de não esquecê-los e alertar a barbárie anunciada: 1) Taiuva/SP, 2003; 2) Realengo/RJ, 2011; 3) Santa Rita/PB, 2012; 4) Aracaju/SE, 2014; 5) Goiânia/GO, 2017; 6) Medianeira/PR, 2018; 7) Suzano, 2019; 8) Carí/MG, 2019; 9) Saudades/SC, 2021; 10) Barreira/BA, 2022; 11) Morro do Chapéu/BA 2022; 12) São Paulo/SP, 2022; 13) Sobral/CE 2022; 14) Aracruz/ES 2022; 15) Ipaussu/SP 2022; 16) São Paulo/SP, 2023.
Uma pesquisa mais acurada revelaria um número mais estarrecedor, são casos de violência no espaço escolar que não ganham o noticiário nacional, mas não são menos graves! Infelizmente, está se tornando cotidiano nas escolas públicas e privadas, que nos desafia a repensar o projeto de sociedade em que estamos inserido e questionar o projeto de educação posto em prática pelas atuais políticas públicas.
É do profundo fosso de desigualdade social que nasce a cisão entre escola para ricos e escola para pobres e que deixa como marcar indelével na história da educação a discriminação, o preconceito e o descaso com a escola pública e seus sujeitos. Portanto, o ataque de ontem não nasceu naquele momento, mas nessa história e, apesar da complexidade do caso, não podemos deixar de apontar os movimentos que, mais recentemente, ganharam força em diferentes grupos da sociedade civil e política que aprofundam a desvalorização e desautorização da escola e de suas e seus docentes. Como é o caso da Escola Sem Partido, que germinou e fez proliferar a inimizade de estudantes contra professores, na medida em que incentivou estudantes dedurarem seus professores e a vê-los como seus inimigos sob o estigma de doutrinadores. Do mesmo modo, o projeto de militarização da escola cuja obediência militar é a solução e a desautorização docente a estratégia privilegiada. Sem falar abjeta proposta de homeschooling para um país que não universalizou nem o Ensino Fundamental e descredibiliza a escola como espaço de sociabilidade coletiva. Tudo isso, acompanhado, de longa data, da desvalorização do magistério público com baixos salários, péssimas condições de trabalho e de estruturas da escola e da desprofissionalização da carreira. Por fim, não podemos fechar os olhos ao avanço da mercantilização da educação tocada pelas fundações empresariais da educação e apoiada pelo aparato estatal de cada ocupante de governo em diferentes cadeiras do executivo e legislativo dos governos federal, estaduais e municipais, mudando apenas o modo e a intensidade que se dá a penetração dessas fundações no interior da escola.
O Centro de Educação e Ciências Humanas da Universidade Federal de Sergipe – CECH/UFS, entende que o ataque desferido contra professoras e estudantes da Escola Estadual Thomázia Montoro e os demais citados acima, não é caso de segurança e de polícia, não obstante requer ação dessas instâncias e de seus agentes, mas, sobretudo, é responsabilidade do discurso e de um projeto de ódio que incita a população a fazer justiça com as próprias mãos e, para isso, fornece legislação e liberação de instrumentos bélicos para quem assim desejar se juntar ao covil de militantes justiceiros.
Chegou o momento da sociedade e do estado brasileiro fazerem um profundo exame de seus pilares formadores e tomar a educação como direito social de todas e todos sem discriminação de classe social, de gênero, de etnicarracial, de religião, de condição física, mental e sensorial, enfim, todas e todos brasileiros que ao nascerem devem ter o direito sagrado de crescerem em proteção e de acessar a escola pública de qualidade social. O CECH/UFS se solidariza com toda a comunidade escolar da Escola Estadual Thomázia Montoro, especialmente, com a família, amigos e colegas da Professora Elizabeth Tenreiro. Também observa com muita preocupação o caso do estudante de 13 anos e autor do ataque como caso que exige ação educativa de formação humana e não de pura repreensão, para que possamos sair dessa tragédia um pouco melhor do que estamos sendo hoje!
Elizabeth Tenreiro, presente! Hoje e sempre!
Conselho do CECH
Reunião do dia 30/03/2023.